Ao escrevermos sobre determinado assunto, e externá-lo numa mídia, nem sempre e sadio e sábio fazê-lo só com a convicção pessoal e não olhar o todo, sob pena de dar uma martelada na própria mão.
É o caso das várias opiniões sobre as cotas na Educação, por exemplo, que além de tratar-se um princípio constitucional, finaliza-se também de fraternidade entre os humanos racionais (?), tratando-se assim de aplicar o dever do Estado das chamadas Políticas Afirmativas de composição para chegar a outro princípio fundamental que é a igualdade de condições.
Quando alguém externa que é contra cotas destinadas a determinado segmento ou estrato social, além de estar utilizando-se da liberdade de expressão, faz pressão contra a liberdade do conhecimento do outro, que talvez faça parte das minorias representadas nas casas legislativas, sendo que este pensamento representa tão somente seu umbigo!
Na Educação as cotas tem a função de garantir que o passado das capitanias hereditárias, do período imperial e escravocrata, do coronelismo, da exceção democrática da ditadura, não se instale e perpetue o “se sou branco, sou contra as cotas” só estou perpetuando tudo o que a história sempre contou: “os europeus ricos chegavam, traficavam pessoas, os escravizam, negros e índios, como mão-de-obra gratuita e não davam nada em troca, nem ao reino e sequer aos humanos”, contrariando até mesmo seus compatriotas iluministas. Se sou negro, índio, e depois europeu pobre, terei toda a história contra mim.
Esta é a função de um Governo democrático e fraterno. Levar a todos a Educação sem olhar a cor da pele, a religião, a ascendência ou descendência, condição econômica, mas mirando as oportunidades históricas de cada um, para não perpetuar as condições adversas construídas nos espaços temporais anti-humanos.
Reservar percentuais a uma determinada categoria, classe, estamento, é o fiel cumprimento da Carta maior constitucional, pois tratar os desiguais com desigualdade é a mais pura igualdade. Se dermos condições de acesso à Educação, à Saúde, à Segurança, à Justiça, ao Saneamento, públicos, vou ter mais subsídios para o convencimento destes à lutas sociais do bem secular. Se determinado serviço está entre as funções e determinações do Estado, e “é um bem de todos”, não posso ser contra um determinado acesso através das cotas, se depois os analfabetos não sabem a diferença entre o que é Público e Privado. Como vou explicar a diferença que faz isto para a sociedade se a esta mesma sociedade eu tratei de impedir o serviço a serem prestados.
Como vou a casa de um morador de minha cidade pedir, por exemplo, que assine determinado abaixo-assinado pela permanência do setor de saneamento como público, se eu mesmo fui contra talvez a que o filho, o amigo ou parente daquele a quem peço a assinatura não acessasse a Educação pública. Estarei fomentando a luta “na classe” e não “de classes”. Àquele que talvez teve sua oportunidade impedida por alguém que não deseja que certos direitos (Educação) sejam garantidos, vai estar legitimamente dizendo a aquele que quer seu direito garantido, como no exemplo acima, o Saneamento Público, que concorda com o acesso das empresas privadas no saneamento, água e esgoto, etc... Único vencedor nesta disputa é o capital financeiro-especulativo.
Sem fazer qualquer defesa do governo federal atual, mas tem-se visto que existem investimentos, tanto em Educação, comprando inclusive vagas nas escolas privadas para que os menos possuídos as integrem, como no Saneamento, e estamos na luta para cobrar o Estado de sua função social. Mas não posso só pensar no meu umbigo.
Depois que o filósofo Descartes descobriu com seu “cogito, ergo sum” ou o “penso, logo existo”, no século VXII, não tratava-se de pensar somente em mim próprio, mas no conhecimento que poderia obter com o outro, somado também de saber que as relações com o outro também deveriam fazer parte das minhas convicções. Hoje, em pleno XXI isto deve ser uma realidade para o “nós” deixando de lado o “eu”. Escrever à convicção de que o não acesso a qualquer bem material do outro não é possível, estou retornando ao período da inexistência do ser humano na Terra.
Roberto Barros e David Barros - estudantes de universidade pública, não cotistas;
Roberto Barros e David Barros - estudantes de universidade pública, não cotistas;
David Barros - Sociólogo
Nenhum comentário:
Postar um comentário